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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Relatório, Síntese e recomendações do Encontro do GMEL em 2009 (São Paulo)

Avaliação do GMEL – 4 anos

            Após quatro anos do início das atividades do GMEL – Grupo Mulher, Ética e Libertação - foi realizado o I Encontro de avaliação da caminhada desse novo ente social que já ocupa importante espaço nas lutas sociais do Brasil.

            O Gmel surgiu do desenvolvimento do trabalho de incidência política de 10 mulheres da base (em situação de prostituição ou ex) que participavam dos grupos de base da PMM – Pastoral da Mulher Marginalizada.

            Esse grupo inicialmente se organizou para levar as propostas apresentadas durante o XII Encontro nacional da PMM em Teófilo Otoni para Órgãos de Brasília – DF. No próprio DF decidiram pela continuidade do Grupo, batizando-o de GMEL.

            Nossa avaliação da caminhada do GMEL constitui-se de duas partes:

            I parte: Resgate da caminhada – 4 anos da Teia de esperança.
II parte: a) avaliar o que mudou na vida de cada uma das lideranças presentes do GMEL, o que mudou na comunidade e nos Grupos de base dessas mulheres, e, por fim, que mudanças ou impactos já podemos sentir na sociedade e nas Instituições após o surgimento do Gmel?
            b) Avaliar a caminhada por passos ou táticas pensadas pelas próprias mulheres nos primeiros encontros como grupo, a sustentabilidade financeira e a força do Grupo, assim como as formas de continuidade culminando em uma agenda parcial até junho de 2009.
            Táticas:
EIXOS PRINCIPAIS DE ATUAÇÃO E FORMAÇÃO; COMUNICAÇÃO;
PARCERIAS E POLÍTICA DE ALIANÇAS; A RELAÇÃO COM A PMM;
O QUE É GMEL; QUEM FAZ PARTE DO GMEL, CRITÉRIOS PARA A LIDERANÇA; ASSESSORIA; MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E AGENDA POLÍTICA PARCIAL.

            Com esse roteiro muito bem discutido, alguns consensos, alguns encaminhamentos por votos da maioria e algumas recomendações, nos dias 12 e 13 de novembro levamos a cabo mais essa importante missão, que é a de avaliar e celebrar a caminhada, fraquezas e estagnações desse novo sujeito social coletivo que surgiu como um dos resultados mais importantes do trabalho da PMM – Pastoral da Mulher Marginalizada.

            O objetivo da avaliação é também fazer um balanço dos avanços, fraquezas e estagnações, assim como elas pensam em continuar esse trabalho em seus espaços e em nível nacional, como rede aberta.

            As mulheres presentes fizeram suas anotações e em breve farão um relato completo que enviarão para quem elas escolherem.

I parte: Resgate da caminhada – 4 anos da Teia de esperança.

            O Resgate da caminhada foi feito em forma de mutirão e revisitação de uma linha do tempo desde o final de 2005 até o dia atual.
           
            As mulheres presentes conseguiram lembrar de cada momento, cada encontro planejado em projetos, e de cada ação realizada e não prevista. Tudo o que foi planejado foi cumprido e até superado, faltando apenas realizar o encontro previsto de Minas Gerais, e as visitas para a articulação do GMEL em alguns regionais.  
           
            Foram realizados cerca de VII encontros de nível nacional com as lideranças, um encontro nacional com a PMM, quatro encontros regionais e várias oficinas como as realizadas no Fórum Social Mundial, na Ilha de Marajó, e em São Paulo, com os grupos de São Paulo.
           
            Elas lembraram também vários momentos em que tiveram que se posicionar perante a mídia, falar em público, palestrar em escolas e universidades, representar o GMEL em feiras e mobilizações e lembraram com muito carinho as manifestações em Brasília tanto após o Encontro de Teófilo Otoni, quanto durante o Encontro de Brasília, em março de 2009.

            Por favor, vejam o registro anexo das participantes do GMEL, com essa memória.
           
II parte:

a) avaliar o que mudou na vida de cada uma das lideranças presentes do GMEL, o que mudou na comunidade e nos Grupos de base dessas mulheres, e, por fim, que mudanças ou impactos já podemos sentir na sociedade e nas Instituições após o surgimento do Gmel?

            O que mudou em minha vida, após o GMEL?
           
            A unanimidade das mulheres se referiu às mudanças positivas em sua vida pessoal após a formação do GMEL. Elas se referiram muito ao aumento do conhecimento, à perda da timidez, à capacidade desconhecida de falar em público, à elevação da auto-estima, capacidade de tomar iniciativa e formar um grupo, protagonismo, sentimento de se tornar sujeito, capacidade de participação em outros grupos, e compartilhar conhecimento, de buscar novas saídas para sua vida, mais autonomia, mais liberdade, algumas arrumaram empregos e se sentem incluídas em um grupo grande, com vontade de se encontrar.
           
            Podemos sintetizar em protagonismo, empoderamento, autonomia e fortalecimento da dignidade e cidadania.

           
            O que mudou na minha comunidade, com o meu grupo?
           
            Elas referem que ao se apresentarem como GMEL e dotadas de um conhecimento próprio que tanto a formação quanto a própria experiência de vida enquanto mulheres em situação de prostituição lhes deram, passaram a buscar mais espaços comunitários.
           
            São conhecidas em paróquias, igrejas, associações de bairros, Entidades, Centros de Direitos Humanos, cooperativas solidárias e a grande maioria formou um grupo onde compartilham e multiplicam conhecimentos, onde facilitam o surgimento de novas lideranças e onde adotam atividades alternativas de trabalho e renda. Têm muita esperança na continuidade desses grupos, mas, Cleone ressalta toda a dificuldade que tem em manter coesa e funcionando a Associação Viva Mulher, que fundou com outras mulheres no centro de São Paulo. Cássia ressalta muito o crescimento das novas lideranças formadas no grupo da região leste de SP, e como percebe o crescimento, a consciência e o envolvimento das mulheres da Cooperarte.

 
            O que mudou na sociedade e nas instituições em geral?
           
            O Gmel pode ser considerado um novo sujeito político, social e histórico, fruto de uma longa caminhada de trabalho de grupos de base da PMM e do próprio esforço de lideranças surgidas do meio das mulheres em situação de prostituição. Embora ainda possa ser considerado uma criança de quatro anos, caminhando passos claudicantes e bambos, podemos dizer também que é uma criança esperta, com protagonismo, com vontade de aprender. Está em idade pré-escolar, mas teima em avançar às primeiras letras.

            O Gmel considera como o maior impacto dessa caminhada ter contribuído para barrar o projeto 093/98 que propõe a regulamentação da prostituição no Brasil. Isso representa um passo adiante que elas podem caminhar rumo ao fortalecimento da igualdade, da não discriminação, da não violência e da realização de políticas de proteção e seguridade social às mulheres em situação de prostituição e ex, e não somente capitular perante a aparente única saída possível: a profissionalização do sexo.

            Considera também que um grande impacto tem sido se constituir como sujeito político tanto quanto o sujeito antagônico “Rede de Profissionais do Sexo” se constituiu, com visibilidade, com legitimidade e com reconhecimento de alguns grandes movimentos, tais como, principalmente, o movimento de mulheres. Nesse campo havia uma hegemonia e ela não só foi quebrada, como aos poucos vem sendo revertida. Interessante ressaltar que a palavra hegemonia foi verbalizada por uma delas e as outras entenderam o seu sentido.

            Outro impacto é a autodenominação de movimento, se denominam movimento e aos poucos anseiam pelo protagonismo, pela autonomia, pela liberdade e pelas conquistas coletivas para todas.
           
            Percebem que, pouco a pouco, em vários lugares do Brasil passam a ser reconhecidas como movimento, passam a ser vistas com notório saber em suas áreas de atuação.

            O desenvolvimento de uma plataforma política de atuação e lutas por seguridade social em geral, apresentadas em vários momentos de controle social e participação cidadã, apresenta como impacto essa contribuição protagônica elaborada por elas mesmas e apresentada também a autoridades e órgãos públicos. Elas creditam a essa organização e produção conquistas como: creches noturnas em algumas localidades, geração de renda e inserção na rede de economia solidária em outras, aposentadoria em alguns locais, apenas como exemplo.
           
            Sabem, no entanto, da necessidade de fortalecer e continuar as incidências políticas nessa área e da necessidade de dar visibilidade das vitórias como vitórias delas.

            A formação, enquanto acúmulo e enquanto processo continuado e permanente de adquirir e compartilhar conhecimentos, pode ser considerada impactante, pois está tendo o efeito multiplicador na base inesperado e muito rápido. Elas se consideram um Grupo Nacional que tem contribuído com a cultura, com a partilha de conhecimentos entre mulheres de várias localidades do Brasil.

             Esse conhecimento também tem tornado elas solidárias com várias outras lutas, que não são específicas apenas das mulheres em situação de prostituição: a luta por saúde sexual e reprodutiva, a luta por Segurança Pública com cidadania, a luta ampla contra a violência à mulher. As conquistas são de todas, uma vez que a grande maioria dessas líderes nacionais já está inserida em movimentos populares, e, para a nossa alegria, no movimento feminista; as que ainda não estão já conhecem as principais redes desse movimento, tem simpatia por elas e querem mais conhecimento sobre o feminismo.

            Temos o seguinte balanço quanto a isso: Cleone e Neusa se dizem da Marcha Mundial de Mulheres e se assumem feministas; Diana, Paulina, Chica e Bernadete são de fóruns ligados à Articulação de Mulheres Brasileiras, se declaram feministas. Nancy se diz feminista embora sem participar diretamente do movimento, assim como Cássia. Geise se diz feminista total, embora com toda a vulnerabilidade social na qual está imersa. Cássia alega precisar de mais informações sobre isso, mas sente que é meio feminista.

            Mulheres que ainda estão na prostituição, mulheres que deixaram recentemente a prostituição e que até bem pouco tempo não participavam de nenhum movimento se reconhecerem e se declararem conscientemente feministas é um grande impacto, pois estão imprimindo ao novo coletivo que iniciaram, em nível nacional, uma marca política e pedagógica muito forte e necessária ainda para apoiar a superação das desigualdades, a emancipação feminina, a luta por autonomia e participação social, cultural e política.
           
            Estão assim, se somando aos inúmeros outros coletivos e movimentos que, como colcha de retalhos, como teias abertas, estão construindo essa nova realidade no Brasil para as mulheres. E as mulheres em situação de prostituição que lutam contra a regulamentação chegaram! Assim, contribuem com a mudança do Brasil e com a mudança do mundo.
           
            Pode parecer manifestação imatura ainda, mas foi com consciência firme e posso dizer que até com orgulho elas manifestaram isso. Ser feminista e contribuir com a libertação de outras mulheres também, é mesmo motivo de orgulho.

            Essa identidade e auto-reconhecimento não significam, no entanto, que tenham a formação feminista avançada e nem que respeitem e vivenciem todos os princípios feministas, restando essa meta, então, como um desafio para o GMEL e sua continuidade.

            Junto com a capacidade de se dizerem feministas tem a capacidade de se declararem ecumênicas, de respeitarem a diversidade de manifestações religiosas nesse coletivo e a capacidade de participarem e elaborarem manifestações com frases de alerta que elas mesmas pensaram ou que conhecem por já participarem do movimento de mulheres.

            Terem realizado duas manifestações públicas, sendo a última, em março de 2009, no DF, após o encontro nacional, é um resultado maravilhoso, pois dá visibilidade ao corpo coletivo que tem colorido multirracial e multi-religioso.

            Manifestações do movimento dizem para quem participa e assiste que há coesão, articulação e bandeiras de lutas unificadas como a luta contra a regulamentação. Quando 70 vozes gritam “não, não, não... não à regulamentação” demonstram que existe uma vontade e uma criatividade própria. Ninguém, nenhuma assessora, nem eu, nem Mercedes colocamos isso na boca delas. Isso é sim resultado que demonstra avanço no conceito e auto-entendimento delas como teia aberta e como movimento protagônico.

            Elas consideram também o processo coletivo de elaboração da cartilha sobre legislação e o produto disso um resultado e ao mesmo tempo a previsão, quase uma certeza, de impacto entre as mulheres, grupos e associações que atuam na prostituição, assim como para outros grupos de mulheres. Sabem que isso pode levar certo tempo, mas acreditam no papel multiplicador que as lideranças do GMEL têm.

            Por favor, vejam os resultados que elas próprias sintetizaram, anexos ao final desse relatório.

b)         Avaliar a caminhada por passos ou táticas pensadas pelas próprias mulheres nos primeiros encontros como grupo, a sustentabilidade financeira e a força do Grupo, assim como as formas de continuidade culminando em uma agenda parcial até junho de 2009.

EIXOS PRINCIPAIS DE ATUAÇÃO E FORMAÇÃO:

            A escolha dos eixos de atuação dos anos passados foi acertada. Recordam:

            Eixos de atuação: Lutas e mobilizações contra a regulamentação da prostituição; lutas por geração de renda e alternativas de vida; Lutas por políticas públicas de Seguridade Social. Vão continuar atuando nessas áreas.
           
            O que incluem para os próximos anos: fortalecimento da auto-organização e articulação dos grupos de base.

            As mulheres do GMEL acharam os temas tratados nas ações de formação realizadas ao longo dos quatro anos passados de grande relevância. Recordaram os conteúdos: cidadania, políticas públicas, análises de conjuntura política, legislação, violência contra a mulher, tráfico de meninas e mulheres, raça, etnia e mídia, prestação de contas, entre outras.

            Apontam para a necessidade de se estruturarem melhor como grupo, superarem os nós críticos e, assim continuarem a formação de lideranças, o monitoramento das conquistas em termo de políticas públicas, a viabilidade da sustentabilidade política e financeira. Buscam, então, formação sobre como fazer projetos sociais, como organizar-se em associações e cooperativas e como monitorar as políticas públicas.

            Indico como temas para a formação futura:

  • O que é ecumenismo na base;
  • Liderança feminista rumo aos objetivos do GMEL – um plano estratégico;
  • Metodologia de depoimentos, crítica e construtiva;
  • Cursinho rápido sobre projetos, organização e associativismo;
  • Como utilizar rapidamente uma informática básica e as ferramentas da internet (e-mail, grupo, blog etc.).
  • Feminismo e seus princípios;
  • Análises de conjuntura e a continuidade da luta contra regulamentação da prostituição, contra o tráfico de mulheres e contra a exploração sexual de adolescentes.

COMUNICAÇÃO

            As lideranças do GMEL reconhecem que a comunicação voltada para o coletivo não foi o ponto forte do grupo. Ao contrário, foi exatamente seu maior ponto fraco e descambante.

            - Excesso de ruídos entre elas;
            - Competições e “lero-leros” distorcendo uma comunicação unitária e                         libertadora;
            - Deixaram de fazer o boletim Tecendo Teias;
            - Não utilizam lista eletrônica que foi criada a pedido delas mesmas;
            - Não comunicaram as grandes vitórias;
            - Dependem demais da PMM para seus mecanismos de comunicação.

Propuseram:

            - Ter uma pessoa do próprio GMEL que organize a comunicação, que se encarregue de repassar documentos, boletins e comunicados. Escolheram a Chica de Imperatriz, pois ela tem computador em casa, tem telefone celular e acesso ao telefone convencional.
            - Propuseram uma auxiliar que ajude todas a ter acesso rápido aos documentos do GMEL - escolheram Diana, pois ela tem tempo, acesso a computador, sabe lidar com a máquina, com telefone, e-mails e tem arquivo em lugar seguro.
            - Nancy também pode ajudar nos registros, pois tem informática e acesso a e-mails e computador;
            - Rochele pode ajudar em sistematizações e resumos, pois tem facilidade em comunicar-se e apresentar sínteses e relatos;
            - Vão atualizar a lista virtual e a lista de endereços do GMEL;
            - Ficaram de fazer circular o boletim Tecendo Teias, virtual, e vamos fazer o Número de resgate e finalização do projeto com a CESE em abril de 2010;
            - Propuseram o desenvolvimento de uma comunicação pautada pela ética e pela libertação (palavras da Diana), princípios que estão expressos no próprio nome do grupo: transparência, colaboração, informação e conhecimentos voltados à libertação integral das mulheres.
            - Combinaram que terão pelo menos um dia da semana dedicado a ver os documentos do GMEL, a responder e enviar e-mails e fazerem seus contatos: a quinta-feira;

PARCERIAS E POLÍTICA DE ALIANÇAS

            Quando perguntei ao GMEL qual ou quais palavras melhor definiam a relação com a PMM, a unanimidade das respostas foi: PARCERIA.
           
            Algumas lembraram que é uma parceria especial, pois o GMEL nasceu da PMM, mas já nasceu, não está ainda na barriga da mãe.
           
            Poderíamos definir como parceria filial, que a maioria não quer romper.
           
            Levei-as a ponderar as razões porque buscam uma ou outra parceria e responderam: lutas na base, objetivos comuns (não regulamentação da prostituição), místicas que aproximam, e, no caso das parcerias com organizações e movimentos feministas elas reconhecem que é o desejo de libertação das mulheres.
           
            As mulheres ainda manifestam dificuldades em se fazerem entender pela PMM nos locais e ressaltam todo o apoio que tem recebido da PMM em nível nacional.
           
            Urge, assim, um trabalho de conscientização mais aprofundado das equipes de base da PMM; mas isso pode continuar conforme avançam as articulações de ambos os segmentos: GMEL e PMM.
           
            Quem pode ser parceiro (a) do GMEL: quem acredita no protagonismo das mulheres em situação de prostituição; quem defende o direito humano a não se prostituir; quem acredita que é possível uma teia de esperança, liberdade, autonomia, ética e libertação das malhas e redes que prendem as mulheres à prostituição forçada e quem apóia a luta contra a regulamentação da prostituição e contra a mercantilização do corpo, quem deseja uma sociedade melhor e um sistema mais socializado para todos.


O QUE É GMEL:

            Perguntadas sobre o que é GMEL, as mulheres responderam que é ainda uma teia de esperança, de ética e libertação, mas acrescentaram muito fortemente as palavras: teia de fé, de liberdade e de autonomia e reivindicam a idéia de Grupo feminista. Ficamos de elaborar uma definição sintética e coletiva nos próximos dias e conduzir para uma nova discussão.

            QUEM PODE FAZER PARTE DO GMEL: mulheres em situação de prostituição, ex e pessoas simpatizantes.

            QUEM PODE SER CONSIDERADA LIDERANÇA E VIR PARTICIPAR DOS ENCONTROS E OFICINAS EM NÍVEL NACIONAL: quem está inserida nos grupos de base, quem está participando das formações de forma contínua e quem demonstra entendimento e capacidade de multiplicação e devolução do aprendido e do informado, quem resiste e continua na caminhada.


SUSTENTABILIDADE DO GRUPO:

            A sustentabilidade política do grupo se dará na medida em que superem individualismos e desvios de intenção quanto à missão coletiva do GMEL; o GMEL crescerá em sustentabilidade política também na medida em que definam bem seus espaços próprios e os espaços de inter-relação com seus parceiros, em especial com a PMM e terá sustentabilidade política quando tiverem capacidade de elaborar seus próprios planejamentos e agendas, sem interferências externas, apenas quando solicitada, quando (caminham a passos largos) sentirem que o acúmulo de formação que têm realmente atingiu a massa dos novos grupos que estão sendo formados.

            Quando todas estiverem unidas, nos quatro cantos do Brasil, nas lutas no entorno das bandeiras que elas escolheram.

            A sustentabilidade financeira passa pela capacidade de manter suas parcerias fiéis como PMM, CESE e SPM, por exemplo, em fazer as devolutivas de gastos e entenderem linguagens mínimas sobre projetinhos sociais e pedidos de apoio. Passa também pelas condições de buscarem recursos para os trabalhos internamente, em suas localidades e terem condições de auto-sustentabilidade, pelo menos, das dirigentes.

            Foi solicitada a comunicação entre elas sobre as conquistas em termos de apoio para o coletivo e também para lideranças individuais que fazem parte do Gmel.

            Elas solicitaram formação na área de projetos sociais e captação de recursos e esse será um dos temas do próximo encontro.

MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

            Todas avaliaram que não fomos muito bem em monitorar as políticas públicas já existentes e em monitorar a definição e implementação daquelas que vimos solicitando após os encontros da PMM e GMEL.

            Propuseram estreitar a relação pública com parlamentares do campo popular, em especial com Luíza Erundina e Leonardo Monteiro; solicitar as devolutivas com relação aos documentos enviados aos Órgãos federais, e sugeriram que Cleone e Bernadete fiquem nessa função de fazer a incidência política em nível federal e em fazer os resultados do monitoramento retornar para o coletivo.

            Sugerimos a formação: O que é monitoramento, como fazer o monitoramento das políticas públicas propostas pelo GMEL? Também esse será um dos temas do próximo encontro do GMEL, em BH.

ASSESSORIA

            Continuamos com a proposta de ter assessorias regionais e locais, conforme avança a ampliação das parcerias e simpatizantes. Optaram pela minha continuidade como assessora nacional, alegando os seguintes motivos: sei fazer e compartilhar projetos sociais (mas, não sei fazer tão bem quanto elas supõem), conheço a caminhada do GMEL desde o início e já dei demonstrações de que estou do lado delas nas questões mais conflitantes para a continuidade do grupo. No entanto, sugeriram o nome de João Silva como um assessor adjunto, o que foi acatado por todas.

            O que penso sobre isso: de fato, com o acúmulo da caminhada com o GMEL e com a PMM, tenho condições de dar continuidade a esse acompanhamento e pertença também ao GMEL, pois além de facilitadora me sinto parte do Grupo.

            Reconheço que tenho a visão do todo e a visão de futuro, conforme o grupo for cumprindo seus próprios planejamentos. Tenho uma opinião própria sobre as forças e fraquezas desse grupo, não só pelo fato de acompanhá-lo, mas também pelo fato de que nessa Teia de esperança, eu assumo muito a esperança.

            E, como diz Neusa: as primeiras dificuldades com o grupo passaram e a poeira baixou.

            Sei, porém, o quanto é necessário nós termos vários olhares sobre o grupo, trazer os conhecimentos específicos e temáticos de pessoas solidárias e simpatizantes como as que vieram ao longo dessa caminhada: Mercedes, Monique, Mauro Kano, Gláucia, Marta Baião, Fabiano Viana, Suely Rodrigues, Jacira Melo, Conceição Amorim, Salete Castro, Márcia, João entre outras pessoas. Cada um na sua área facilitou a formação e a caminhada do Grupo em suas várias etapas.

            A assessora ou assessor de processo, como eu e Mercedes temos sido, somos um pouco como o “ego” corporificado do coletivo. Somos mesmo, egos auxiliares permanentes, que vendo o todo, ajudamos a pensar e às mulheres do GMEL a ver e a pensar o todo, a dialogar com a PMM e com outros parceiros. Não é uma função simples. Não fazemos só o papel de estar do lado ou de informantes, pois elas não querem “babás”, mesmo que o grupo ainda seja novo, já demonstraram isso em Brasília, em março de 2006.

            Assim como, uma facilitadora de processo que está caminhando e acompanhando o grupo junto, há quatro anos, não pode ter papel reduzido a fazer projetos, ofícios, cartas e relatórios. As mulheres precisam ser as primeiras a entender isso e, aparentemente, já entendem. Precisam entender que essas coisas estão no âmbito da assistência administrativa, muito mais do que no papel que percebi para mim e que reivindico.

            Não me recuso a ajudá-las quanto tiver possibilidades, mas o ideal é que se organizem e tenham pessoas nos próprios grupos que as assistam e apóiem nas necessidades cotidianas.

            Acolho e apóio a proposta delas de ter mais uma facilitadora ou facilitador adjunto, e essa pessoa teria que ter muita afinidade comigo assim como uma inegável trajetória junto às mulheres em situação de prostituição; saber como é cada uma individualmente e como é o coletivo, conhecer e concordar com as bandeiras de lutas e metodologia do GMEL. Para ser bem franca eu gostaria que Mercedes Lima ou Monique ainda tivessem condições de fazer esse papel, caso João, que elas mesmas indicaram não aceite essa função.

Síntese: Como sinto o grupo hoje, em relação ao começo:

  • Mais coeso;
  • Mais disciplinado;
  • Mais empoderado;
  • Com mais acúmulo de conhecimentos;
  • Estipulando, aos poucos, limites e regras;
  • Mais autônomo;
  • Ampliando-se, com boas novas lideranças;
  • Que escuta mais;
  • Precisa se auto-organizar, internamente, mais;
  • Precisa criar místicas próprias e mais momentos de integração baseados em suas principais bandeiras de luta: direito humano a não se prostituir, não à regulamentação da prostituição e justiça econômica, alternativas de vida e trabalho para as mulheres em situação de prostituição;
  • Precisa que sua relação com a PMM seja entendida e aprofundada na base, nos locais;
  • Precisa diminuir os ruídos fora do grupo e, ainda, conflitos obscuros entre algumas lideranças que atingem a comunicação interna, o crescimento do grupo e a relação com parceiros, assessorias e simpatizantes;
  • Precisa aprofundar o sentido de ética e de autonomia;
  • Precisa aprofundar o sentido de ser um Coletivo Feminista;
  • Precisa monitorar mais o acompanhamento de sua plataforma de Políticas Públicas;
  • Trazer mais mulheres do norte (citaram Nilde e Geise), mais mulheres do centro-oeste e trazer as mulheres do sul;
  • Precisam ter boas assessorias nos locais e valorizar bem as potencialidades das mulheres que vão entrando nos grupinhos de base;
  • Precisam definir duas ou três estratégias extremamente políticas para os próximos dois ou três anos que alimentem a continuidade do grupo.
  • O Gmel é um COLETIVO, restrito, caminhando para ser um movimento autônomo de base, mais massivo e com grande papel libertador;
  • Ele precisa ter o sentimento de temporalidade: ainda estamos no início e temos um longo e maravilhoso caminho pela frente.

            Em síntese, esse foi o resultado de nossa avaliação e pequeno planejamento. O encontro de MG foi proposto para junho, pois elas teriam que encerrar também o projeto de articulação da CESE e precisaríamos saber se há recurso ou não para o Encontro de BH e para o lançamento da cartilha de formação.
           
Bernadete Aparecida Ferreira


da direita p/ à esquerda:Neuza,Bernadette, Nancy,Rochely,Cássia, Diana, Cleone e Chica (fotografando)

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